domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mulher moderna X Amélia.

São 7h. O despertador canta de galo e eu não tenho
forças nem para atirá-lo contra a parede. Estou TÃO
acabada, não queria ter que trabalhar hoje. Quero ficar
em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até.
Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles,
se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas.
Aquário? Olhando os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo
alongamento. Leite condensado? Brigadeiro. Tudo menos
sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro
pra funcionar.

Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das
feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar
direitos à mulher e por quê ela fez isso conosco, que
nascemos depois dela. Estava tudo tão bom no tempo das
nossas avós, elas passavam o dia a bordar, a trocar
receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos
de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons
livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa,
podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das
hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a vida
era um grande curso de artesanato, medicina alternativa
e culinária.

Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã
tampouco de espartilho, e contamina várias outras
rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes
sobre "vamos conquistar o nosso espaço". Que espaço,
minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro
todo, o mundo ao seus pés. Detinha o domínio completo
sobre os homens, eles dependiam de você para comer,
vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos
requerer?

Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que
papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o
diabo da cruz. Essa brincadeira de vocês acabou é nos
enchendo de deveres, isso sim. E, PIOR, nos lançando no
calabouço da solteirice aguda.

Antigamente, os casamentos duravam para sempre, "tripla
jornada" era coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá,
porque naquela época não existia Bernard e, se duvidar,
nem vôlei. Por quê, me digam por quê, um sexo que tinha
tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil,
foi se meter a competir com o macharedo? Olha o tamanho
do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso. Tava na cara
que isso não ia dar certo.

Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer
escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa
vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com
meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar
engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer
atropelada, passar o dia ereta na frente do computador,
com o telefone no ouvido, resolvendo problemas. Somos
fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em
forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas,
unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado
de mestrados, doutorados, e especializações.
Viramos "super mulheres", mas continuamos a ganhar menos
do que eles. Não era muito melhor ter ficado fazendo
tricô na cadeira de balanço?

Chega !!! Eu quero alguém que pague as minhas contas,
abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu
sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia,
faça serenatas na minha janela - ai, meu Deus, 7h30,
tenho que levantar! - e tem mais ... que chegue do
trabalho, sente no sofá, coloque os pés pra cima e
diga "meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?",
pois eu descobri que é muito melhor servir.

Cês pensam que eu tô ironizando? Tô falando sério!
Estou abdicando do meu posto de mulher moderna... Troco
pelo de Amélia.
Alguém se habilita?

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